Giovanni Tagliaro é UX Designer na ilegra

Ao pesquisar sobre a profissão de UX Designer, é muito comum encontramos diversos artigos sobre o assunto, que vão desde as habilidades que vão lhe tornar um UX Designer melhor e maneiras de identificar um UX Designer ruim, até os piores erros de UX que você definitivamente deve evitar e estudos de caso: bom UX vs. mau UX.

Certamente, é importante para nós, designers, ler este tipo de conteúdo de tempos em tempos para que possamos garantir que ainda estamos fazendo o nosso trabalho direito. Entretanto, quero abordar uma perspectiva diferente.

Não vou escrever para UX designers hoje. Escrevo para diretores, gerentes de produto, líderes e pessoas de negócios em geral. Ou, ainda, para todos aqueles que contratam serviços de empresas de TI e de consultorias de design. Quero chamar a atenção até mesmo de gerentes de projeto — não daqueles que só estão preocupados com datas de entrega, mas os que buscam entender a importância do design para a experiência dos usuários (UX Design) e o seu impacto nas qualidade das soluções criadas.

O que realmente me motiva para escrever este artigo não são perguntas do tipo “O que é UX?” e “Precisamos de UX?”, algo que costumávamos fazer até pouco tempo atrás. Agora, existe uma pergunta mais relevante, que ainda não estamos perguntando tanto quanto deveríamos:

“Será que nossos UX Designers estão realmente projetando de forma efetiva e eficiente experiências melhores para os usuários e criando produtos sensacionais?”

Em uma pesquisa de 2017, o Nielsen Norman Group, uma líderes mundiais em User Experience, concluiu que 80% das organizações que possuem algum tipo de colaborador exercendo papel relacionado a UX está aquém do que se considera uma UX altamente efetiva.

A maioria dos gestores, desenvolvedores e pessoas de negócios já sabem que UX designers são importantes e até já gosta deles! O UX Design desempenha um papel central na evolução da qualidade de qualquer solução no mercado atual. No entanto, o que não sabem é: como diferenciar um bom UX designer de um ruim? E, mesmo que tenham a sorte de dispor de bons UX designers na sua empresa, não sabem se eles estão, de fato, conseguindo desempenhar um bom trabalho ou não.

Bem, alguma coisa é sempre melhor do que nada, certo? Digamos que é sempre uma questão de perspectiva e de expectativas. Você até pode estar “ligeiramente” confortável entregando produtos “ligeiramente fáceis de usar”, mas, a partir do momento em que você vislumbra o quanto a entrega poderia ser melhor, com os mesmos recursos (ou seja, sem nenhuma contratação adicional), é muito difícil não querer melhorar na prática mesmo assim. Na perspectiva do “Lean”: por que você iria manter algo que não funciona direito e que gera desperdício? Não deveria haver nenhum cenário “ligeiramente bom”.

E, além disso, não estamos mais nos anos 90. O que as pessoas conheciam e esperavam naquela época não é, nem de longe, o que elas exigem hoje em dia. Um exemplo disso é depois de usar o Google Agenda por um bom tempo, naturalmente, já temos expectativas quanto a funcionalidades “básicas” que um aplicativo de agenda padrão deve oferecer, como:

– Design responsivo e adaptativo, para que possamos ver nossos compromissos tanto em computadores desktop quanto em laptops e smartphones;
– Lembretes e notificações, para não esquecermos nossos compromissos;
– Ações de “arrastar e soltar”, para que possamos organizar visualmente nossa agenda de modo intuitivo;
– Opções que nos permitam visualizar os eventos de outras pessoas;
– Maneiras de trocar entre a visualização do dia, da semana, do mês e do ano, para ajudar no planejamento a curto e a longo prazo.

Do ponto de vista de um desenvolvedor, apesar de a maioria deles reconhecer o valor de todas essas funcionalidades para os usuários em um aplicativo de agenda pessoal, muitos também vão dizer que tais funcionalidades são muita coisa para um time de desenvolvimento contemplar em um curto período de tempo. Então, de que adianta tentar desenvolver uma nova agenda digital? O Google Agenda já está por aí há anos — o que significa que houve um número expressivo de sprints para os pesquisadores conversarem com usuários e para os desenvolvedores trabalharem nas funcionalidades —, e ele fornece um conjunto de funções que a maior parte dos usuários considera essencial no dia a dia.

O que estou tentando dizer é que é difícil começar do zero hoje e, ainda assim, ser capaz de suprir as expectativas dos usuários dependendo do tipo de solução em que você está trabalhando. Soluções antigas já passaram por muito tempo de envolvimento e desenvolvimento e, provavelmente, já elevaram as expectativas de maneira que as pessoas acham naturais certas funcionalidade, quando nos bastidores, os desenvolvedores sabem que são coisas nada triviais de implementar. Quem já começou na frente de você pode ter abocanhado uma fatia do mercado de maneira irreversível.

Neste cenário, produtos “ligeiramente fáceis de usar” podem não ser mais o suficiente. Então, como podemos garantir que os UX designers estão desempenhando bem os seus papéis, de forma a entregarem experiências verdadeiramente melhores e mais inovadoras? Como podemos ter certeza que as soluções às quais eles estão chegando não são medíocres, mas, sim, distintas e valiosas? Como podemos parar de contribuir para um futuro em que só existirão soluções “googleformizadas?

É simples… Pergunte para eles!

Primeiramente, entenda o que os UX designers precisam para performarem como eles acreditam que deveriam estar performando. Tenho certeza absoluta que a maioria deles, se perguntada, vai lhe dizer que não dispõe de recursos básicos para que o trabalho deles tenha um mínimo de qualidade, como, por exemplo, acesso a usuários reais.

UX design e inovação não existem apenas para aumentar o escopo das soluções. Em um grupo focal, um UX researcher pode descobrir que 5 das funcionalidades detalhadamente descritas no Documento de Requisitos do Produto que havia sido entregue pelo cliente são, na verdade, inúteis para as pessoas que vão usar o produto na prática.

É por isso que termino este artigo listando alguns aspectos chave para ajudar você acompanhar a performance dos UX designers na sua equipe ou na sua empresa.

Checklist de performance dos UX designers:

– Os UX designers estão conversando, colaborando e aprendendo com pessoas de outras áreas? Seja com gerentes de marketing, desenvolvedores, outros designers, clientes ou usuários;

– Estão mais preocupados com datas de entrega ou com as necessidades dos usuários e do negócio? É preferível que eles estejam mais preocupados com a segunda destas duas opções;

– Estão realizando pesquisa de forma semanal ou quinzenal? Estão testando para usabilidade, acessibilidade e emoção antes que a solução final seja escrita em pedra?

– Conduzem Revisões de Design junto com os desenvolvedores?

– Estão conseguindo esboçar e por à prova várias alternativas antes de escolherem o “design final”?

– Estão priorizando funcionalidades e tarefas com base no valor para o usuário e para o negócio — de modo que a equipe de projeto entregue sempre o que traz mais valor primeiro?

– Estão trabalhando confortavelmente à frente dos desenvolvedores? Ou o trabalho entregue pelos UX designers é implementado pelos desenvolvedores na mesma sprint?