Sylvio Mode é presidente da Autodesk no Brasil

O planejamento e implantação de um projeto de melhoria de infraestrutura foi realizado com eficiência graças a tecnologia. E isso aconteceu em São Paulo, quando a CPTM adaptou cinco estações para garantir acessibilidade aos usuários. 

Mas se isso é possível, qual a lacuna a ser fechada para que a infraestrutura no Brasil decole de uma vez, reduzindo o déficit hoje estimado em R$ 1 Trilhão, tornando o País mais competitivo?

Apesar de sermos um País com alta carga tributária, como cidadãos, não conseguimos obter o retorno sobre que investimos, em forma de melhorias, tão necessárias em nosso País.

Isso porque ainda existem modelos ultrapassados de gestão na esfera pública, que por excesso de burocracia e opacidade, geram efeito negativo no planejamento, execução e controle de projetos, reduzindo a eficiência e a transparência entre os recursos da população e a estrutura que os administra.

A boa notícia é que a tecnologia tem sido uma grande aliada nesse processo de transformar e de contribuir com mais qualidade, transparência e eficiência sobre como os tributos podem ser aplicados. Quando falo de tecnologia estamos abordando diferentes possibilidades, em diferentes áreas – saneamento, energia, transporte, serviços, etc. Ela permite desde os mais simples processos de verificação, até a implantação de sistemas inteligentes mais complexos. Atualmente, órgãos públicos, por meio de tecnologia, conseguem analisar um grande volume de dados armazenados em nuvem, com segurança, com acesso por dispositivos móveis, descentralizados e próximos ao cidadão beneficiado. Com isso, se aprimora a tomada de decisões, facilitando e acelerando fluxos de aprovação, simulando resultados, entre outros exemplos. 

Temos levado a vários gestores públicos inovações que podem evitar gastos desnecessários e melhorar as entregas de obras públicas. O uso da metodologia BIM (Building Information Modeling), por exemplo, possibilita o gerenciamento de todas as fases de uma obra, desde sua concepção, projeto, construção e manutenção, com informações detalhadas sobre seus componentes e controle imediato sobre execução, com análises preditivas e alertas sobre potenciais desvios de prazo e orçamento.

Isso significa que os projetos ganham transparência e clareza em relação às obras executadas e aos recursos utilizados. Podemos saber antes mesmo de começar qual será o valor final, tempo estimado, e possíveis imprevistos que poderiam ocorrer, corrigindo erros antes que impactem custo e prazo. Numa indústria como a da construção civil, que tem índices de desperdício acima de 30% e gera mais de 25% de todo o lixo do planeta, esta capacidade traz um ganho inestimável, tanto para quem constrói, quanto para quem paga a conta, e o planeta agradece.

Muitos projetos, tanto na área privada quanto na pública, já estão sendo realizados nesse novo formato. O governo federal já acena para que, a partir de 2021, novas obras sejam projetadas e implementadas de acordo com a metodologia BIM, como condição de contratação. Segundo estudos realizados pela ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), a expectativa é que o uso desta metodologia inovadora aumente em 10% a produtividade e reduza em 20% os custos das obras públicas. Se visualizarmos esse percentual em valor monetário, é possível ter uma visão melhor do quanto isso representaria de economia real. 

É o caso da CPTM, que citei acima. A engenharia implementou a metodologia BIM, começou o seu uso em cinco estações e assim já foi possível otimizar o tempo gasto para levantar as condições existentes, criar um novo projeto e implementar as melhorias. O que antes demorava cerca de 1 mês, agora é concluído dentro de 1 ou 2 dias, e com muito mais assertividade. Isso porque com a visualização em 3D e os dados obtidos, a equipe responsável sequer precisa ir a campo na fase de levantamento e projeto. E ainda assim é possível ter informações detalhadas e fazer novos estudos de análise, impactos, desocupações etc. Com isso, já é possível reduzir custos, já que a solução consegue antecipar possíveis falhas e evita obras desnecessárias, por exemplo.

Uma gestão mais eficaz deve refletir em investimentos dedicados a áreas que são essenciais ao desenvolvimento econômico e social do Brasil, como saúde, educação, mobilidade e segurança. É a tecnologia aplicada ao bem público que retorna valor ao cidadão brasileiro.

No final, eficiência significa fazer mais com menos recursos. Utilizar e se valer de tudo o que for melhor sem perder a qualidade. É isso que queremos ver, é isso que dá para fazer com tecnologia e capacitação. Sabemos o caminho certo e temos muito trabalho pela frente.