Por Robinson Cannaval Junior

Quando se fala em novas tecnologias, rapidamente algumas pessoas associam os novos mecanismos a modismos passageiros, como o APP do momento ou o aparelho da vez. Mas engana-se profundamente quem faz essa associação à Agricultura 4.0.

A chegada dessas tecnologias e soluções digitais para criação de valor na cadeia do Agronegócio veio para gerar uma drástica redução dos custos de produção, colheita, transporte, armazenagem, processamento e transmissão de dados. Ou seja, a Agricultura 4.0 permite medir, controlar e otimizar processos do Agronegócio de modos que seriam impraticáveis há poucos anos e isso não é passageiro. Essa praticidade e as tecnologias não irão regredir. Muito pelo contrário, só evoluir e auxiliar nos processos do Agronegócio, em todos os âmbitos.

A Agricultura 4.0 permite, por exemplo, a redução na aplicação de defensivos e utilização de combustível e a aplicação de nutrientes corretamente, de acordo com o potencial de resposta da planta. Gera ainda valor agregado, com a segregação e a rastreabilidade de produtos com características específicas de qualidade e uso final. Hoje o Agronegócio pode contar, por exemplo, com drones e satélites, que mapeiam o solo, identificam pragas; com a Internet das Coisas (IoT), que disponibiliza sensores no campo captam informações sobre a lavoura; com máquinas inteligentes que controlam a liberação de insumos, entre tantas outras inovações. Com as novas tecnologias também é possível determinar o local exato onde as pragas estão em uma plantação e, com isso, restringir o uso de defensivos, ao invés de aplicar na área toda plantada, como é comum nos dias de hoje.
A tecnologia 4.0 também pode ser usada na logística do campo, para monitorar e gerir frotas.
Mas para se chegar a esta evolução no campo, o Brasil deve, imprescindivelmente, se adaptar. Soluções digitais em geral requerem conectividade. A falta de acesso a redes de transmissão de dados pode dificultar ou atrasar a adoção de tecnologias 4.0 pelo Agronegócio brasileiro. Apesar do acesso considerável à Internet, apenas duas a cada 10 propriedades são cobertas por redes 3G ou superior no Brasil. A presença de “máquinas inteligentes” na produção ainda é tímida, dada a relevância da agricultura brasileira. Ficamos atrás de países como a China e os Estados Unidos neste quesito.
O tamanho de nosso país e as dificuldades de se obter a infraestrutura serão barreiras que devem ser vencidas de maneira complementar entre a iniciativa privada e também por iniciativas públicas. A tendência é o gargalo da infraestrutura ir diminuindo com o tempo, à medida que o produtor rural e o restante da cadeia mudarem a mentalidade.
Outra dificuldade a ser vencida para a aplicabilidade da agricultura 4.0 no Brasil é que boa parte das informações da produção agrícola brasileira ainda se encontra em planilhas eletrônicas ou no “caderninho”. Essas duas maneiras citadas de se armazenar dados se tornam obsoletas dentro do conceito da Agricultura 4.0, pois só informam ao produtor e ao empresário o que foi feito (o passado e, no máximo, o presente). Enquanto as novas tecnologias permitem extrair conhecimento do passado e com isso a decisão do que é preciso fazer ou deveria ter sido feito (modelos preditivos).
A falta de dados históricos estruturados sobre o desempenho da lavoura e do negócio é um grande obstáculo para a captura rápida dos benefícios das tecnologias digitais. Apesar de representar mais de 20% do PIB brasileiro, o setor do Agronegócio demandou menos de 2% dos investimentos em softwares no ano de 2018, o que é considerado muito pouco perto das possibilidades e da representatividade do Agronegócio.
O desenvolvimento de tecnologias 4.0 é mais “barato” em comparação com outras ondas de tecnologias agrícolas (como a química e a biotecnologia). Se por um lado isso aumenta as chances de surgimento de inovações valiosas, também cria dificuldades na hora de escolher onde colocar foco frente a tantas possibilidades.
Hoje, por exemplo, além da rotulagem de alimentos, os consumidores estão muito mais conscientes do que compõe sua alimentação. Querem saber exatamente o que comem. É preciso, então, que a outra ponta da cadeia, o produtor, esteja com as informações digitais interligadas a todo o sistema de produção, armazenamento e distribuição para que o consumidor final tenha o seu desejo atendido corretamente de origem e características dos alimentos.
Os empresários da cadeia integrada do Agronegócio precisam de atentar às mudanças tecnológicas e se adaptar se quiserem sobreviver e, acima de tudo, prosperar. Pois, na busca pela eficiência, eficácia e pela qualidade, não dá para se destacar e se aprimorar fazendo o mesmo dos dias de hoje ou do passado.

Robinson Cannaval Jr – Sócio fundador e diretor do Grupo Innovatech, Diretor executivo da Innovatech Consultoria, Formado em Engenharia Florestal pela ESALQ/USP, com especialização em Gestão estratégica de Negócios pela Unicamp e MBAs em Finanças e Valuation pela FGV.